Posted tagged ‘a vida’

Política

Setembro 7, 2008

O Governante-Mor

O Governante-Mor precisou de uma finalíssima do concurso Eu Prometo, para levar de vencido o Eterno Candidato a Governante-Mor.
            Ouvia-se um burburinho nas bancadas. O Eterno Candidato a Governante-Mor estava preparado como nunca para vencer as eleições/concurso televisivo. Já tinha garantido a panela de pressão, o skate, a viagem a uma ilha paradisíaca e o sofá com massagens. Faltava-lhe apenas ganhar o veículo oficial – o troféu do concurso. O Outro Finalista do Concurso – que, sem querer estragar a surpresa, viria a ser o Governante-Mor – estava atrasado, mas a última promessa podia dar a vitória a qualquer um.

O Eterno Candidato a Governante-Mor prometeu baixar os impostos. Era o seu grande trunfo e não se adivinhava qualquer promessa que conseguisse roubar-lhe as chaves do veículo oficial.
           Os candidatos de bancada concordavam que a vitória estava assegurada. Nunca, nas outras eleições/concursos televisivos, alguém tinha conseguido ultrapassar a promessa de baixar os impostos.
           O Outro Finalista do Concurso estava misteriosamente calmo. Tinha um trunfo, ninguém duvidava. Mas qual? Que promessa podia dar-lhe tanta confiança?
           O apresentador, também ele expectante, fez a pergunta:
           – Desiste, ou quer subir a fasquia? – nas bancadas o barulho das gargalhadas era ensurdecedor. Subir a fasquia… impossível…
           – Quero subir a fasquia.
           Ouviu-se um “wow” e um “é maluco”.
           -Diga-me, então, o que tem a prometer.
           -Eu prometo…
           -Espere só uns minutos, que vamos para um curtíssimo intervalo.
          

 Depois do curto intervalo de trinta minutos, deu-se o momento por que todos esperavam.
            -Boianenses, chegou o momento por que todos esperam! Prometa lá, então. – o apresentador lançou o repto, depois de contar a história do concurso e de explicar por que razão um quilo de algodão pesa o mesmo que um quilo de ferro.
            – Eu prometo introduzir treze novos feriados, dos quais nove dão direito a ponte.
            Lançaram-se confétis, arroz e uma melancia. Nas bancadas fazia-se a onda. Era este líder que Boião precisava, sem dúvida.
            Na curta entrevista que se seguiu à entrega das chaves do veículo oficial, o Eterno Candidato a Governante-Mor, lavado em lágrimas, assumiu a derrota:
            – Aceito a derrota, agradeço o apoio que me foi dado e deixo o aviso: vou andar por aí. A promessa do Governante-Mor foi muito ambiciosa e eu duvido que a consiga cumprir e por isso digo e repito: vou andar por aí.

            O Governante-Mor licenciou-se em Construção de Marquises, um negócio fortíssimo em Boião. Era de uma competência tal, que somava uma inesgotável quantidade de cargos políticos, entre os quais convém destacar, pela importância vital para a sociedade boinenense: Associação Dos Amigos Que Querem Mais Sal no Arroz nos Restaurantes; Chefe-Maior da Confraria dos Amigos do Vinagre; Presidente da Mesa da União Gastronómica Amigos do Garfo; Líder do Movimento Jogos Olímpicos em Boião – Sonho ou Realidade?; Presidente do Conselho Ético e Deontológico da revista À Espreita; Presidente do Clube Desportivo A Taça é Nossa e fundador do Comité de Inquérito Marquises, Que Futuro?
           O seu braço direito no novo cargo, o mais importante que um político/concorrente de concursos televisivos, pode almejar, era o Lábias, cujo feito mais extraordinário, segundo consta, é o de ter reivindicado, com sucesso, o direito à reforma, acabado de celebrar o seu 28º aniversário.